OPINIÃO | Promessas de Rafael a Themístocles escancaram desmoralização política no Piauí

Enquanto barganha cargos, o governador ignora o eleitor e expõe o descaso com as instituições.

Preterido da chapa majoritária de 2026, o vice-governador Themístocles Filho (MDB) é alvo de um conjunto de promessas feitas pelo governador Rafael Fonteles (PT): uma secretaria “robusta” em eventual próximo mandato, retorno à Assembleia Legislativa e até a presidência da Casa. Promessas que, mais do que frágeis, são impossíveis de serem cumpridas dentro da legalidade.

A desfaçatez é dupla. Primeiro, porque a presidência da Alepi não é uma extensão do gabinete do Palácio de Karnak. É eleita pelos deputados, em votação secreta, e depende de articulação interna no Legislativo. Transformar esse cargo em moeda de troca é desrespeitar a autonomia de um poder e zombar da democracia.

Segundo, porque nenhum governador pode assegurar a eleição de um deputado. O caminho de Themístocles de volta à Alepi depende do voto popular, e não de acordos de bastidor. Prometer mandato é escárnio com a população, como se o eleitor fosse apenas um detalhe descartável.

Terceiro, porque nem mesmo a promessa de secretaria tem validade real agora. Nomear secretariado é prerrogativa de um governador eleito e empossado. Antes da eleição, qualquer oferta não passa de retórica de bastidor típica da política piauiense que se acostumou a negociar o que não pode entregar.

O que se vê, portanto, é a reprodução de uma prática que desmoraliza as instituições e joga na cara da sociedade a imoralidade de um sistema que insiste em operar no varejo das conveniências pessoais. O governador pode até tentar equilibrar sua base oferecendo compensações a aliados preteridos, mas não pode vender como certo o que pertence ao voto, à independência do Legislativo e à soberania das urnas. (Ao menos que compre, o que é IMORAL e ILEGAL).

No fundo, isso tudo revela um padrão conhecido: a política no Piauí continua a ser negociada às custas da população. O eleitor assiste como um produto, impotente, a promessas impossíveis e à manipulação da máquina pública como instrumento de barganha, em um claro desrespeito à independência do Legislativo e à soberania das urnas.