Terça, 01 de abril de 2025, 02:01

Xadrez na Política

ANÁLISE

O Xadrez na Política; por Arnaldo Eugênio

Portanto, no “tabuleiro da política” é possível usar o xadrez.

Não é tão simples definir o que é política, nem onde começa nem onde termina. Porém, o filósofo grego Aristóteles caracterizou o ser humano como “um animal político” – isto é, um ser que, inconscientemente, perscruta a vida em comunidade, porque as suas necessidades materiais e emocionais só podem ser satisfeitas pela convivência com outras pessoas: a sociabilidade.

Para o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), considerado um dos pensadores clássicos da sociologia, que desenvolveu um método de análise social baseado no que chamou de “ação social”, a ideia de “política” compreende qualquer tipo de liderança independente em ação, que envolve uma diversidade de relações humanas. Na obra “A ciência como vocação” (1917), ele limita o uso do termo ao tipo de liderança exercida pelas associações políticas e, mais especificamente, pelo Estado.

No caso da política partidária pode-se vê-la, por um lado, como a arte da trapaça e, por outro lado, como uma disputa em que o fim é conquistar e, principalmente, manter o poder político em determinado contexto. Nesse sentido, a política pode ser aproximada ao jogo de xadrez, onde têm regras (políticas) de convivência entre os competidores.

Comum a ambos é a possibilidade de trapaça. Sim, no xadrez, como na política, pode existir trapaças, quando um dos jogadores (ou candidatos) recebe ajuda ilegal para escolher ou manipular os lances (ou os votos) durante uma partida (ou eleição). Na política, a ideia de minirreforma a cada nova eleição é para aperfeiçoar o sistema eleitoral e evitar fraudes. Mas, na prática, torna-se um meio para muitos indivíduos manterem um poder político.

No xadrez, como na política, o segredo para vencer uma partida (ou eleição) é sempre estar adiantado em relação aos movimentos ou estratégias do oponente, usando jogadas ou ações cada vez mais complexas afim de derrotá-lo. Tanto no xadrez quanto na política, uma primeira jogada vai definir o clima do restante da partida, seja com ataques diretos ou dominações de certos pontos do tabuleiro ou debate político.

Na política partidária, a vitória se consolida pela conquista da maioria absoluta de votos, não computados os em branco e os nulos, ou seja, o “eleito”. Enquanto que, no xadrez, a vitória é determinada quando um jogador realiza o movimento perfeito de ataque ao rei adversário, deixando-o sem opção de movimento para a defesa ou de fuga para o rei, ou seja, o "xeque-mate".

 Assim, a expressão “xadrez na política” pode ser compreendida como a tentativa de estabelecer uma relação de similaridade entre o jogo de xadrez e a política no mundo atual, sem a pretensão de transferir diretamente as regras do jogo de xadrez para o jogo da política. Pois, mesmo que ambos sejam contextos de disputas e com algumas semelhanças, há especificidades que os distanciam.

O xadrez, como um jogo de mesa de natureza recreativa e competitiva tem algumas regras de disputas que podem ser utilizados pelos “jogadores políticos” para persuadir os eleitores na luta pelo poder – p.ex. nas eleições. Mas, a política deve ser entendida a partir das relações de regularidade e concordância dos fatos com os porquês que inspiram as lutas em torno do poder do Estado e entre os Estados. Isto é, para além do xadrez, pensar a política, não somente partidária, e suas diversas formas de manifestação social numa perspectiva global, exige-se ir além da noção de jogo e trapaça.

Portanto, no “tabuleiro da política” é possível usar o xadrez. Todavia, como adverte Maquiavel, na obra “O Príncipe” (1513): “(...) para conhecer bem a natureza do povo é preciso ser príncipe, e para conhecer melhor a natureza dos príncipes é preciso ser povo”.

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