E se o circo pegar fogo?

Por Maurício Lopes

Aprendi ainda no antigo segundo grau, por meio de um professor de História ideologicamente de esquerda — e, aliás, poucos professores de história ou jovens da época não nutriam algum ideal revolucionário nos anos 90 —, que "quando os Estados Unidos estão resfriados, o resto do mundo já está acometido de pneumonia". A frase, impactante e frequentemente repetida em salas de aula e palestras, resumia de forma dramática a influência da maior economia do mundo sobre o restante do planeta.

Desde então, a economia global mudou substancialmente. O mundo parece estar dividido entre a "esquerda" e a “direita”. A globalização, que à época era um conceito novo, hoje se desdobra em diversos termos como interconectividade global, conectividade digital e fluxos transnacionais, entre outros. O "Tio Sam", já não é mais uma potência isolada no mundo. No entanto, uma coisa permanece inalterada: o peso das palavras de um presidente americano sobre os mercados internacionais.

Recentemente, declarações do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demonstraram mais uma vez a validade da máxima citada por meu antigo e revolucionário Professor de História. Em uma entrevista ao canal Fox News, ao ser questionado sobre a possibilidade de recessão nos EUA em 2025, Trump respondeu de maneira lacônica que evitava fazer previsões sobre o assunto. Bastou essa breve hesitação para que o dólar voltasse a subir no Brasil, enquanto as bolsas de Nova York e São Paulo registravam quedas expressivas. A simples menção à palavra "recessão" durante a entrevista gerou incerteza nos mercados, fazendo com que investidores adotassem uma postura mais cautelosa e adiassem decisões de consumo e investimento.

O presidente preferiu não aprofundar comentários sobre o futuro da economia americana no que diz respeito à recessão. É compreensível que qualquer gestor público, ministro da área econômica ou analista tenha dificuldade em prever com precisão os rumos de um cenário tão volátil. No entanto, a necessidade de estimular o crescimento econômico permanece uma responsabilidade inescapável dos líderes globais. É imprescindível que os gestores ajam para promover o bem-estar econômico e a estabilidade da economia, com base em princípios éticos que favoreçam a sociedade, impulsionados pelo livre comércio e pela dinâmica dos negócios.

A roda da economia precisa estar constantemente azeitada para funcionar de maneira ideal. No entanto, essa engrenagem não pode se transformar em um agente desgovernado de histeria coletiva, espalhando incertezas como esporos de um fungo insidioso, que contaminam indiscriminadamente a atividade econômica global. A economia deve ser vista como um mecanismo de equilíbrio e evolução constante, girando com harmonia — e não como um ventilador desvairado, no qual se atiram dejetos no auge de sua rotação apenas para que se assista ao espetáculo grotesco da desordem. Afinal, no atual modelo de economia globalizada, não há lugar seguro entre o picadeiro e os assentos da plateia. Se o “circo pegar fogo”, todos seremos consumidos pelas chamas — palhaços e espectadores.