‘Lixo eletrônico’ nos rios Poti e Parnaíba podem provocar doenças hepáticas e neurológicas

Em Teresina, biólogo alerta e diz que aumentou o descarte de lixo nos rios, algo que pode causar doenças graves no ser humano e afetar o meio ambiente

Por Felipe Reis e Lucas Almeida 



O saneamento básico e a expansão da rede de esgoto são um avanço social que está acontecendo para os teresinenses nos últimos cinco anos. Apesar dos rios Parnaíba e Poti estarem com problemas ambientais provocados em maior parte pelo ser humano, como por exemplo, a produção de lixo eletrônico, a empresa Águas de Teresina está ajudando às pessoas a terem uma vida mais digna com água tratada. Acompanhe como estão sendo desenvolvidas as ações de esgotamento sanitário na capital, como forma de preservar a vida e o meio ambiente.

  

Homem morando às margens do rio Parnaíba FOTO: LUCAS ALMEIDA

   

Teresina tem 171 anos de história e um crescimento populacional já acelerado. De acordo com o último censo do IBGE em 2022 já somos mais de 860 mil habitantes, um crescimento populacional de 6,39% em relação ao censo realizado em 2010.

E como a cidade está crescendo, se estruturando, é necessário um cuidado especial com a água que está sendo consumida. Há cinco anos a Águas de Teresina chegou com uma missão de melhorar a qualidade da água e sua distribuição, proporcionar saneamento básico e desenvolver rede de esgoto o que dá dignidade aos teresinenses. O seu Francisco de 62 anos tinha lama na porta de casa onde mora com a esposa. A falta de saneamento básico prejudica ele e os vizinhos. Agora, a realidade negativa está mudando.

  

Francisco da Costa auxiliar de serviços gerais FOTO:LUCAS ALMEIDA

   

Seja para ricos ou pobres o ato de lavar às mãos e o rosto com água encanada pode parecer algo simples, mas para seu Francisco isso é respeito é evitar sofrimento é preservar a saúde. Alexandre de Oliveira, gerente de operações da Águas de Teresina, explicou que a rede de cobertura está sendo expandida. Hoje, são 43% de coleta e tratamento de esgoto, e meta é alcançar 59% no ano de 2024.

  

Esgoto desaguando no rio Parnaíba FOTO: LUCAS ALMEIDA

   

Segundo a Águas de Teresina o Ministério da Saúde estabelece 1.000 coletas mensais para 10 mil análises. A empresa afirma que Teresina já tem 100% de água tratada, e que tudo é controlado por duas estações de tratamento a Estação de Tratamento Norte (ETA norte) e a Estação de Tratamento Sul (ETA sul).

  

Situação do acúmulo de aguapés no rio Poti FOTO: LUCAS ALMEIDA

   

Os rios Parnaíba e Poti são considerados símbolos para a capital do Piauí, pois Teresina, é a única capital do nordeste banhada por dois rios. A análise do biólogo, José de Ribamar de Sousa Rocha, pesquisador da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica a diferença dos problemas ambientais presentes nos rios. No segundo semestre do ano, no rio Poti, acontece a diminuição das chuvas e o nível do rio baixa, aumentando a concentração de esgoto o que provoca os aguapés que se alimentam da matéria orgânica suspensa na água. O rio Poti tem maior índice de poluição porque ele está mais próximo do perímetro urbano de Teresina. Nele há diminuição da diversidade e quantidade de peixes, já o rio Parnaíba tem maior volume de água e é menos poluído, pois ele não está tão próximo da zona urbana.

  

Imagens do Rio Parnaíba sob a Ponte Metálica FOTO: LUCAS ALMEIDA

   

Outro impacto ambiental é o "lixo eletrônico". Estão sendo jogados objetos que liberam metais pesados e tóxicos. O seixo e a areia no leito do rio estão alterando o ambiente, que segundo o biólogo o "lixo eletrônico" são equipamentos que tem componentes eletroeletrônicos, os mais conhecidos são, geladeiras, fogões, celulares, tablets, computadores e outros objetos eletroeletrônicos.

  

Alexandre de Oliveira, gerente de operações da Águas de Teresina FOTO:LUCAS ALMEIDA

   

Para o pesquisador o descarte adequado de "lixo eletrônico" deve ser feito para as empresas que possam reutilizá-lo porque elas têm componentes que são impactantes para o meio ambiente. O descarte nunca deve ser feito no ambiente, o ideal é que deveria ser feito com coleta seletiva principalmente pelas empresas que produziram estes equipamentos, o que seria a logística reversa que é a desmontagem e o reúso desses elementos para reciclagem ou ongs (organização não governamental).

O “lixo eletrônico” pode causar sérios impactos ambientais. o principal deles é a contaminação das águas de rios, lagos, mananciais e do próprio solo. essa contaminação se dá com metais pesados que são utilizados nos constituintes eletrônicos como o mercúrio, cádmio e chumbo. Esse material é cumulativo em seres vivos como por exemplo, os peixes, que são consumidos pelas pessoas que podem acumular materiais pesados em seu corpo ao consumirem esses animais, o que pode trazer várias doenças hepáticas, cardiovasculares e neurológicas. Todos os organismos do meio ambiente estão passíveis de contaminação com metais pesados podendo ocasionar desequilíbrio na vida humana e sérios problemas ambientais.

No Instituto de Águas e Esgotos do Piauí (IAEPI) órgão responsável pelo monitoramento de áreas e do meio ambiente, em entrevista com Avelar Damasceno, diretor de sustentabilidade da instituição, foi explicado como estão sendo avaliados os rios Parnaíba e Poti e o trabalho da Águas de Teresina.

  

Avelar Damasceno Diretor de Sustentabilidade do Instituto de Águas e Esgotos do Piauí FOTO: LUCAS ALMEIDA

   

Além da rede de esgoto que está sendo ampliada pela Águas de Teresina, Avelar Damasceno falou sobre um sistema de saneamento alemão de preservação de rios que foi implantado no estado do Ceará e na cidade de Picos, no sul do Piauí, que abrange 58 comunidades rurais; “O SISAR Sistema de Integração de Saneamento Rural ajuda em crises hídricas onde as associações se organizam com as comunidades e cuidam do projeto que pode ser mais uma solução para evitar a poluição nos rios”, ressaltou Damasceno.

Cada molécula de água representa vida, energia e os biomas piauienses, a caatinga, o cerrado, os cocais e os manguezais devem ser preservados. De acordo com o IAEPI a bacia hidrográfica do rio Parnaíba tem 333 mil quilômetros quadrados e engloba 4 milhões de habitantes. No total são 280 municípios nos estados do Piauí, Ceará e Maranhão.

O motorista de aplicativo Thyago Valfredo morador do bairro Vale Quem Tem, zona leste de Teresina, relatou sobre a importância do saneamento básico em seu bairro, onde também moram várias famílias. Ele disse que em algumas ruas do bairro ainda não tem esgotamento sanitário, mas as obras da Águas de Teresina já começaram.

  

Morador do bairro Vale Quem Tem, Thyago Valfredo Foto: Lucas Almeida

   

“É um sonho para mim e os outros moradores que estavam esperando por esse momento”, disse Thyago.

As obras de saneamento básico e esgotamento sanitário da Águas de Teresina estão acon entendo em vários bairros da capital. Na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMAR) o analista ambiental Renan de Castelo Branco nos disse que a rede de esgotamento sanitário avançou, assim como a fiscalização. O grande problema são os pequenos geradores de poluição, moradores ou comerciantes e não são as grandes empresas.

A depredação das margens dos rios, o lixo, o assoreamento precisam ser controlados; está mais do que provado que o esgotamento sanitário é um agente indutor na despoluição dos rios e encontramos no rio Parnaíba aves que fazem parte do nosso cotidiano, mas também vimos sujeira, garrafas pet e isopor. Valdenir Lopes, pescador desde os quinze anos depende do rio para sobreviver assim; “Eu vejo até sofá jogado no rio. Eu dependo do rio para pescar, sobreviver e vender o peixe, é triste ver o rio morrendo”, finalizou o Valdenir.

  

Valdenir Lopes, pescador Foto: Lucas Almeida