O governo brasileiro divulgou, de forma alarmante, que, durante o mês de agosto, 21% dos valores do Bolsa Família foram gastos em jogos online. Cerca de 3 bilhões de reais foram ‘investidos’ em apostas que já estão se espalhando de forma irreversível pelos diversos setores do Brasil. Dinheiro que deveria garantir o café da manhã de milhares de crianças foi arriscado na previsão de quantos cartões amarelos um time receberia durante uma partida. O feijão que alimentaria famílias vulneráveis foi usado para apostar quantas vezes a bola sairia pela lateral. O remédio que deveria tratar uma doença foi substituído por uma tentativa de adivinhar quantas vezes um atacante milionário balançaria a rede. Cartão Vermelho para quem fez isso!
As casas de apostas online, conhecidas no Brasil pelo estrangeirismo bets — um termo que parece suavizar a palavra "apostas" em nosso vernáculo — já estão profundamente enraizadas em diversos setores da sociedade. Mesmo sem regulamentação no país, essas plataformas já demonstram, de forma precoce e alarmante, que trarão inúmeros desafios. Isso é semelhante ao que ocorreu com outros serviços online, como os aplicativos de transporte, que ainda enfrentam impasses quanto à arrecadação de impostos, relações trabalhistas e concorrência com as formas tradicionais de transporte.
Entretanto, o debate sobre apostas online vai além das questões financeiras e da tributação. A saúde mental de milhões de brasileiros também está em jogo. A facilidade de acesso a essas apostas, aliada à falta de controle no uso dessas plataformas, vem prejudicando não só as finanças pessoais, mas também o bem-estar psicológico de muitos. Jovens, pessoas em situação de vulnerabilidade e outros grupos já enfrentam dificuldades diárias e são ainda mais impactados pelos efeitos nocivos desse vício.
O governo brasileiro terá um grande desafio pela frente. A regulamentação definitiva está prevista para janeiro de 2025. As cartas estão na mesa, e, nesse jogo, já há uma ação no STF alegando a inconstitucionalidade das apostas online e tentando barrar a regularização do setor. A Confederação Nacional do Comércio — que, sem dúvida, está defendendo seu próprio interesse — já se manifestou, destacando o risco da compulsividade e o alto impacto financeiro sobre os mais vulneráveis. Mais cedo ou mais tarde, psiquiatras e psicólogos também entrarão nessa peleja. Será um embate hercúleo. Façam suas apostas.