Ninguém é dotado de gostos, preferências e opiniões idênticas e, é justamente essa salutar mescla de predileção que nos impele a eternamente perseguidores da nossa convergência.
Admiro muito a capacidade humana de interpretar diferentemente uma mesma mensagem. Quando escrevemos algo, falamos ou mesmo desenhamos aparecem infinitas maneiras de análises, opiniões ou críticas a respeito. Isso é salutar, considero. Carlos Drumond de Andrade tão bem nos definiu como um ‘estranho ímpar’. E acho que ele quis mencionar a diferença de temperamento, capacidade cognitiva, e o modo de como cada pessoa individualmente enxerga as coisas.
A Administração como conhecimento, defende, o que ela chama de brainstorming (tempestade de ideias). É nada mais, nada menos do que a utilização do contraste de opiniões sendo colocados em embate, para que dele se extraia uma decisão profícua para algum problema que esteja sendo debatido. A utilização de pensamentos diferentes para se chegar a um consenso, a um denominador comum ou pelo menos a utilização da ideia da maioria.
Recentemente estive em uma recepção em que estava afixado na parede - em local estratégico - uma charge ou, para alguns uma ‘tira em quadrinhos’. Era assinada por HAGAR, o horrível. Na gravura dois homens medievais encontravam-se amarrados a troncos e cercados por todos os flancos por dezenas de pessoas armadas com paus, pedras, escudos e lanças pontiagudas. Na iminência de serem mortos um deles olha para o outro e diz secamente: “Algum dia nós ainda vamos olhar para trás e rir de tudo isso!”
Vivi momentos de elucubração, enquanto esperava para ser atendido. Perlustrava o desenho e imaginava os eventuais momentos de dificuldades em que passamos e, ao mesmo tempo nossa capacidade de vislumbrar um futuro promissor, mesmo com a adversidade momentânea. Às vezes acontece mesmo conosco. Problemas sempre irão existir em nossas vidas, mas, é preciso acreditar sempre em dias melhores.
Foi o máximo que pude extrair de tão prosaica mensagem. Nada mais que isso. Nunca imaginei que alguém fosse capaz de tirar alguma outra lição, mas a definição drumoniana do ser humano me frustrou e, talvez fizesse o mesmo com o autor da charge.
Eis que adentra na sala de espera em que eu me encontrava um dos colaboradores da empresa e me observa fitando o quadro. Sem aparentar intimidade ou interesse nesse tipo subliminar de mensagem recolhe alguns papéis e se retira apressado. De repente volta e, com a porta entreaberta dá o bom dia que havia esquecido. Aproveita para emitir seu parecer seco e direto:
- Pra que esse exagero de pessoas, pra matar somente dois homens?!
*Maurício Lopes – Administrador – Especialista em Gestão Empresarial