EITA POVO QUE INVENTA

A criatividade no que tange aos jovens brasileiros não anda nada bem.

Era dos nossos pais a tarefa primeira de nos encaminhar em nossa seminal jornada de criadores, nos exortando a engendrarmos algo de útil para humanidade e saíssemos da ociosidade peculiar aos anos iniciais de nossa existência. E sempre vivíamos o dilema maniqueísta; se a invenção fosse do agrado de nossos genitores éramos recebidos com um “Eita, mais tú inventa”, caso contrário , um “Só Inventa o Que Não Presta” era proferido em alto e bom tom, quando o infeliz inventor e a malograda invenção eram apresentados. Podia inventar, cipó de mororó.

Não obstante ao lúdico  parágrafo introdutório deste artigo, a criatividade no que tange aos jovens brasileiros não anda nada bem. É o que diz um estudo publicado pela Organização para Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), aplicado com estudantes de 15 anos. A partir do ano de 2022 a pesquisa passou a avaliar a capacidade que os alunos têm em inventar soluções originais para determinados problemas, fora dos padrões usuais, bem como a capacidade em usar a escrita e a arte para desenvolver novas ideias. O resultado da pesquisa publicada em junho de 2024 nos apresentou na 44ª posição, entre 64 países estudados. Ficamos abaixo de nações como Colômbia, Peru e Uruguai. Cingapura foi a primeira colocada, seguida de Coréia e Canadá, países - diga-se de passagem - bem acima da média de 33% segundo a OCDE.

 No momento exato em que elaborava esse artigo, a Câmara Federal aprovava o novo ensino médio, mandando o texto para sanção presidencial. Acredito ser esse um dos azados momentos para que os nossos legisladores tentem readequar nosso ensino, inserindo na grade curricular componentes que visem a melhorar os números em pesquisas como a apresentada. Algo que instigue nossos jovens à criatividade latente, aprimorando o ensino e moldando-o de acordo com as novas necessidades que se apresentam. Formar empreendedores sociais, solucionadores dos graves problemas que o Brasil e o Mundo tendem a enfrentar doravante. Abdicarem de estimular os jovens a unicamente ingressarem no serviço público, através da frenética fábrica de ‘concurseiros’.

Os desafios para o melhoramento dos números que empurram para baixo a criatividade na adolescência são enormes. A desigualdade social que ainda é alarmante no país se constitui um dos fatores. A brainrot (podridrão cerebral), psicose ocasionada pelo alto consumo de conteúdos fúteis nas redes sociais também contribuem para alienação de parte de nossa juventude. A facilidade com que os estudantes resolvem problemas, com um ‘google’, contribuem para atrofiamento do cérebro.

Por derradeiro mais uma invenção chega ao cenário mundial: a Inteligência Artificial (IA). Tida como um salto incomensurável na emulação entre cérebro e tecnologia, segundo dizem, dará as máquinas a prerrogativa de pensarem como os humanos. Sem nem sequer ainda haver se consolidado, já tem estado no centro do debate mundial, levando diferentes gerações e opiniões divergirem acerca da real utilidade e benefícios de seu advento.  Pelo visto a IA é uma criação que, se Arquimedes estivesse vivo, hesitaria entre exclamar seu famoso e rebuscado eureka e o nosso prosaico e intimidador Só Inventa o Que Não Presta.