Fomos vice, podem comemorar!

Resultado do PIB: Brasil tem o 2º maior crescimento em ranking .

As manchetes principais da maioria dos grandes jornais eletrônicos do Brasil destacavam, no início desse mês, a desenvoltura do PIB do país e comemoravam com entusiasmo. Diziam elas: “Com o resultado do PIB, Brasil tem o 2º maior crescimento em ranking (TERRA), Brasil é vice em ranking global de PIBs (GLOBO), PIB supera as expectativas, cresce 1,4% no trimestre e sobe 3,3% em um ano (UOL), Lula comemora alta do PIB e destaca aumento de empregos: ‘Sem bravatas e sem mentiras’ (R7) e Brasil fica em 2º lugar em ranking de crescimento de PIB no trimestre (IG).”

Foram tantas as menções alvissareiras que estranhei a falta de queima de fogos nas esquinas e gritos de ‘somos vice’, as camisetas amarelas a desfilarem sobre o asfalto pintado com a Bandeira Nacional. Parece que o que realmente move o sentimento de ‘brasilidade’ do país é a conquista do time do coração. É a apoteose da Escola de Samba na quarta-feira de cinzas. É a cerveja gelada no boteco da esquina, regada a torresmo, batatinha frita e pagode.

Há uma desconexão palpável entre os números que simbolizam o crescimento econômico e o que realmente toca o coração do povo. As manchetes gloriosas sobre o PIB são recebidas com indiferença por muitos, que talvez vejam esses dados como distantes de sua realidade cotidiana. A verdadeira celebração, a que desperta paixão e fervor, está enraizada no que traz alegria imediata e tangível.

Mas, claro, a ausência de fogos de artifício e camisetas verde-amarelas nas ruas  não é mera casualidade. Afinal, em um país onde as promessas são tão infladas quanto os números do PIB, o povo já aprendeu que, na maioria das vezes, vice-liderança é só o prêmio de consolação para quem foi esquecido na fila da realidade. No fundo, ser vice em qualquer ranking global parece apenas reafirmar aquilo que todos já sabem, mas evitam dizer em voz alta: que, entre os números grandiosos e as dificuldades do dia a dia, ainda existe um abismo que nem os mais entusiasmados discursos políticos conseguem preencher. Talvez, aí resida a verdadeira resposta para uma outra manchete questionadora, surgida em outro grande site de notícias: “Economia vai bem, mas percepção é negativa; por quê?”.