O que o G20 produziu, segundo as manchetes

Se fôssemos incumbidos de elaborar um relatório sobre o Encontro do G20, a partir das manchetes, talvez nos restasse ‘memes’ e futilidades

O Presidente Joe Biden, dos EUA, protagonizou um momento digno de comédia. Após encerrar seu discurso em plena Floresta Amazônica, acabou vagando sem rumo, como se a própria densidade do ambiente o confundisse — ou talvez, quem sabe, fosse apenas o cansaço de quem cumpre um aviso prévio.

Já o presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu viver um momento “À brasileira”. Ao cair da noite, caminhou pela orla de Copacabana, cercado de seguranças engravatados, e distribuiu sorrisos e elogios como quem tenta ganhar a simpatia do eleitorado... no hemisfério errado.

A comitiva chinesa, por sua vez, trouxe ao evento uma atmosfera de exclusividade digna de roteiro de espionagem. Reservaram um hotel inteiro em Brasília, trouxeram seus próprios colchões e um chef particular. Dispensaram a maioria dos funcionários do hotel e os que ficaram foram obrigados a usarem crachás com QR Code.

O presidente da Argentina, Javier Milei, pareceu viver um episódio de “O Líder Solitário”. Seu encontro com o presidente Lula durou escassos 20 segundos, com direito a um aperto de mão tão frio quanto os ventos da Patagônia. Na segunda foto oficial, ele sequer apareceu.

Enquanto isso, as cozinhas do G20 estavam a todo vapor, servindo iguarias como pirarucu com tucupi e nhoque de mandioca, que arrancaram elogios de Biden e Lula. O clima de coquetel foi pontuado por selfies inesperadas, como a que uniu o presidente americano ao ministro da Economia brasileiro. Um retrato do “soft power” tropical, talvez!

Também tivemos o momento tragicômico da cobertura midiática nacional: uma apresentadora confundiu o presidente Biden com Bin Laden ao vivo. Felizmente, o erro foi corrigido por um comediante ao seu lado, num instante que, ironicamente, fez mais sucesso nas redes sociais do que as discussões diplomáticas.

Todas essas curiosidades e momentos inusitados foram destacados e sublinhados pelas manchetes e redes sociais de plantão, como se fossem o mais importante. Resta-nos a pergunta inevitável: o G20 vai produzir algo além de anedotas, colunismo social e futilidades? Particularmente torço que sim, o planeta requer medidas urgentes e nenhum dos problemas que afligem o mundo é engraçado.  Soluções reais e urgentes — mudanças climáticas, desigualdade social e crises econômicas não podem ser resolvidas com selfies ou pratos exóticos.