Orgulho e controvérsia em um país que cresce entre bois e mamatas

Um viva a quem contribui com a pujante pecuária brasileira. Vaias a quem se aproveita, da precária situação do contribuinte brasileiro.



Desde o século XVI, a pecuária ocupa uma posição central na economia brasileira, moldando nossa cultura, geografia e até o cenário político de várias regiões, especialmente no Nordeste. Hoje, o setor continua a ter um peso significativo para o Brasil. Dados do IBGE apontam que o abate de bovinos cresceu 24,1% no primeiro trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior.

No cenário internacional, o país também se destaca. Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, o segundo maior produtor e o terceiro maior consumidor global. Com números robustos, a pecuária atrai olhares atentos de investidores: o gado é um ativo de alto valor, que movimenta vultuosos investimentos e sempre desperta o interesse de quem busca segurança e rentabilidade.

O Brasil é mesmo destaque nesses temas: leite, movimentações financeiras vultuosas, mamata e “vaca indo para o brejo”. Recentemente, a Polícia Federal divulgou um  suposto esquema que envolve magistrados no Mato Grosso do Sul, acusados de negociar sentenças judiciais – e entre os bens identificados, uma transação de 80 cabeças de gado no valor de R$ 63.060,48 chamou a atenção. O relatório detalha que "não foram identificadas transações bancárias que indicassem o pagamento da referida compra", levantando suspeitas sobre a legalidade da operação. Cinco desembargadores afastados.Um recorde, de uma mesma turma, envolvida em uma mesma trama.

Outro recorde, quebrado no setor leiteiro, dessa vez exemplo profícuo ao país, aconteceu com uma vaca, apelidada de “Darlin FIV Cabo Verde”, que produziu 84.540 kg de leite durante uma competição na cidade de Uberaba, no Estado de Minas Gerais. Com seu úbere prolificamente irrigado, Darlin é símbolo da produtividade bovina brasileira, no campo da pecuária leiteira.

Ainda no campo de “teta sendo exaurida”, temos como exemplo a “máquina pública”. Ano após ano, aumenta consideravelmente os gastos na gestão pública, sem, no entanto, oferecer o retorno esperado ao contribuinte. Só para citarmos um exemplo absurdo, em 2001 foram destinados R$ 63,2 bilhões para o funcionalismo público, e em 2018 esse valor chegou a R$ 103,68 bilhões – um salto superior a mais de 400%.

O país é, de fato, uma metáfora de uma grande vaca leiteira, com potencial e riqueza à altura de sua imensidão, porém sempre relegada à exploração incansável de uma casta de homens públicos e seus asseclas, sugadores vorazes das irrigadas tetas mamárias da nação. Enquanto essa elite contraproducente se nutre, ávida e insaciável, a esperança e o progresso escorrem sem controle, alimentando privilégios e projetos de interesses próprios, sempre distantes do bem comum. A cada desvio, a cada desperdício, a fonte se esvazia, perde forças e definha, tornando-se drenada e estagnada.

Se todos nossos impostos fossem aplicados de modo a garantir uma educação de qualidade, uma segurança pública eficiente e o “leite das crianças” de forma satisfatória, tudo bem. Afinal, o problema não está no funcionalismo público, muito menos na máquina pública, mas na gestão dos recursos, que somem pelo ralo da corrupção. De nada adianta pagarmos tantos impostos, se eles não são aplicados corretamente, e até usurpados. De nada adianta, estarmos na dianteira na produção agropecuária, contribuindo com o engrandecimento de nossa economia. É como a anedota, que diz  ser a vaca holandesa grande produtora de leite, mas, ao final da ordenha, ela chuta o balde.