Segunda, 31 de março de 2025, 23:41

Xadrez na Política

COLUNA

Um sonoro não à anistia

Por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia.

No último domingo (16/03) a orla da praia de Copacabana, do Leme e do Arpoador, no Rio de Janeiro, foram testemunhas de um sonoro não à anistia aos perpetradores da intentona golpista de 8 de janeiro de 2023. Mesmo a Polícia Militar do Rio de Janeiro (do governador bolsonarista Cláudio Castro), inflando, intencionalmente, os números para mais de 400 mil pessoas no ato. Na verdade, havia aproximadamente 18,3 mil cognominados “patriotas”.

Desse modo, sem a esperada multidão “verde-amarela” na praia, o “ato pró-golpistas” fracassou, contando somente com a participação de alguns “patriotas parlamentares” bolsonaristas. Assim, por um lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro mostra retração da força popular, e, por outro lado, revela a desidratação do apoio político de uma "frente ampla" à anistia aos golpistas.

Com isso, reduz-se a pressão das ruas sobre o Congresso Nacional para pautar o projeto que pretende “perdoar” aqueles que tentaram a abolição violenta do Estado democrático de Direito. A manifestação foi marcada por críticas retóricas ao governo Lula e ao Judiciário, sem proposições, mas carregadas de apelos vazios a favor dos "inocentes" golpistas – uns julgados e outros à espera de julgamento.

Ademais, o baixo comparecimento de público na praia de Copacabana esvazia os discursos de vários deputados e senadores bolsonaristas, que loroteiam para uma plebe histriônica com meias verdades, visando insuflar a massa de sectários para um efeito manada, nos moldes das caravanas de extremistas para executar os atos de 8 de janeiro.

Nesse contexto, o próprio Jair Bolsonaro sentiu a decepção com a baixa adesão popular ao comparar o ato às mobilizações do passado: “A gente arrastava multidões pelo Brasil. Foi aqui, no 7 de Setembro, tinha mais gente do que agora”. Em um ato falho, o ex-presidente reconhece o momento crítico ao dizer que “não sairá do país e que será um problema preso ou morto”.

De fato, ele está deixando de ser um problema político – por ser um inelegível até 2030 – para se tornar um réu e responder às acusações que lhes são feitas, com direito à presunção da inocência. Dentre os quais, segundo o Dossiê Bolsonaro/Projeto Capivara, estão algumas denúncias que foram separadas em quatro grupos: crimes de ódio; crimes na pandemia; crimes de corrupção e crimes eleitorais.

Por isso, aceitar a aprovação de anistia aos algozes e financiadores dos atos golpistas pode abrir um precedente perigoso a outras ilegalidades por parte da extrema direita no Brasil. Pois, as condutas potencialmente ilícitas e criminosas praticadas pelo ex-presidente e os seus asseclas exigem torná-lo inelegível, investigado, julgado e punido, como forma exemplar para precaver novas intentonas golpistas.

Provavelmente, o número de manifestantes aquém do esperado é um reflexo do fragmentado processo de mobilização bolsonarista e o acesso às informações criminosas, apesar do desserviço dos fake news. Assim, o revés do ato expõe o enfraquecimento político do ex-presidente e a sua capacidade de manobrar as “massas patrióticas”.

Porquanto, os atos golpistas de 8 de janeiro foram o maior atentado às instituições democráticas desde o fim da ditadura militar. Onde “patriotas” foram arregimentados por redes bolsonaristas de apoiadores do ex-presidente, para depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, exigindo um golpe militar para evitar a posse de Lula.

Então, caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) analisarem e julgarem a veracidade fática das denúncias contra os falsos patriotas, e puní-los.

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