Antecipar o que acontecerá, na política, até as eleições de 2026, é um exercício de futurologia, de achismo ou de adivinhação. Para evitá-lo, faz-se aqui a analogia com uma caixa de pandora, dada a dinâmica e a impermanência “das relações de regularidade e concordância dos fatos com os motivos que inspiram as lutas em torno do poder do Estado".
No Piauí, o governador Rafael Fonteles, líder do bloco governista, terá um desafio hercúleo para manter unidos e fiéis os três principais partidos da base do governo – PT (50 prefeitos), PSD (65 prefeitos) e MDB (57 prefeitos) –, após os resultados das eleições municipais que fortaleceram as legendas. Na vida, como na política, para o ato de governar, uma característica fundamental de um líder é a capacidade de mediar conflitos entre as pessoas. No caso, o primeiro passo será os ajustes no secretariado para alinhar as “acomodações políticas”.
Nas eleições municipais de 2024, o PT dobrou o número de prefeitos eleitos; o PSD elegeu mais gestores; e o MDB ficou em segundo lugar em número de prefeitos eleitos, mas se reforçou com a votação total recebida no pleito. Por isso, um movimento abrupto diante do novo cenário político, poderá interferir na estabilidade da base governista, pois o PSD se legitimou para compor a chapa majoritária; o MDB para pleitear os espaços de vice e senador; e o PT, na busca da reeleição, de duas vagas na composição majoritária – hoje, pouco provável devido ao rearranjo de forças.
Ainda mais porque alguns partidos de oposição ao PT elegeram prefeitos, como o PP (34 prefeitos), Republicanos (3 prefeitos), União Brasil (um prefeito, em Teresina, o maior colégio eleitoral). Além destes, temos outros partidos, o PSB (2 prefeitos), o PDT (7 prefeitos), o Solidariedade (4 prefeitos) e o Podemos (um prefeito).
O cenário parece confortável, se considerarmos que a base governista de Rafael Fonteles elegeu 186 prefeitos no Piauí (83%). Contudo, nos dez maiores colégios eleitorais do estado a situação e a oposição fizeram 50% dos prefeitos municipais. Enquanto, o PT só elegeu uma prefeita, em Piripiri – Jôve Oliveira.
Nesse contexto, reconheça-se que é significativa a conquista oposicionista de prefeituras em importantes cidades do Piauí – Teresina, Campo Maior, União, Pedro II, Parnaíba e Floriano. Mas, não é possível cogitar qualquer prognóstico em relação a próxima eleição estadual. Pois, a prioridade deve ser a de fortalecer as gestões municipais e superar outros desafios políticos, para formar uma base aliada e leal nas Câmaras Municipais.
No cenário local, em Teresina, nos bastidores da transição política, PDT e PSB estarão na base aliada ao Palácio da Cidade. Porém, em relação a 2020, o PT mais que dobrou o total de prefeitos eleitos e o PP, que teve 84 vitórias, em 2024, caiu para menos da metade. E, a nível nacional, o PSD e o MDB lideram entre os chefes do executivo eleitos no país.
De um lado, alguns partidos saíram enfraquecidos. Em 2020, o PTB teve 17 prefeitos eleitos; mas, em 2024, não teve nenhum candidato vencedor. Outros partidos – o PL, o PSDB, o DC e o DEM –, também, não têm mais prefeituras. Enquanto o Republicanos que, em 2023, teve 10 eleitos; em 2024, elegeu três. De outro lado, novos partidos elegeram prefeitos em cidades piauienses – o Podemos, o Solidariedade e o União Brasil.
Até as eleições estaduais de 2026, a caixa de pandora política estará em “processo termodinâmico” a mercê dos efeitos de mudanças e de articulações partidárias – p.ex. cassações de gestores, parlamentares trocando de partido etc. Na eleição de 2020, doze partidos dividiam as prefeituras no estado; já em 2024, são dez. Quem rufem os tambores!