O cinismo de Caiado

Por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia.

Em recente falácia, através de um discurso cínico, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) – condenado pela Justiça Eleitoral de Goiás a oito anos de inelegibilidade – acusou a imprensa pela onda animalesca de violência policial, para defender Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, dando apoio político aos crimes praticados pelos policiais militares de São Paulo.

Segundo o chefe do Executivo de Goiás – um político condenado, de viés bolsonarista –, os jornalistas e os meios de comunicação que denunciam as truculências e os crimes da “polícia de Tarcísio-Derrite” beneficiam o crime organizado, com uma “crise fabricada” que explora os episódios de violência protagonizados pela PM de São Paulo.

A falácia de Caiado parte de uma premissa falsa para forjar uma catarse política, usando do embotado discurso de truculência típica da extrema direita, no intuito de se validar em campanha para ser candidato a presidente em 2026, travestido de “salvador da pátria”. Mas, que usa o mote das armas de fogo para garimpar apoio entre os asseclas e os mais acéfalos da sociedade. Até porque não existe diferença no modus operandi entre a “polícia de Caiado-Goiás” e a “polícia de Tarcísio São Paulo”.

A política de segurança pública da extrema-direita (ou do extremismo de direita) é particularmente um modelo ditatorial, ultraconservador, sanguinário, hostil e autoritário – que é “baseado no controle social; na centralidade e domínio da política pelas instituições policiais; nas ações de repressão ao crime; nos conceitos de defesa interna e defesa nacional, cuja operacionalização significa eleger um inimigo a ser combatido, inibindo o exercício da cidadania” (Robson Souza, 2015).

Nesse sentido, com um discurso cínico que apadrinha a barbárie da polícia paulista, o governador goiano quer se viabilizar como “presidenciável da extrema-direita”, dissimulando que a onda de crimes cometidos pelos policiais é uma “crise fabricada” pela imprensa. Assim, ele tenta se alçar como o “novo tutor da extrema-direita” e “símbolo da segurança pública” para eleição de 2026, se aproveitando da truculência policial e a favor da violência estatal.

Mesmo distorcendo os fatos da realidade, culpabilizando a imprensa e o crime organizado pela violência estatal, tanto sobre o “inelegível Caiado” quanto sobre o “perdido Tarcísio”, recai a responsabilidade pela violência policial – p.ex. os casos de execução, corrupção e agressão – ocorridas nos estados de Goiás e São Paulo. Pois, nos estados-membros, as forças policiais estão sob as ordens dos governadores, os quais assumem a atribuição de comandante em chefe (ou comandante-chefe).

Ambos são políticos de extrema-direita da claque bolsonarista, fingindo-se de moderados, onde Caiado busca disseminar seu nome a outros estados do país, defendendo a violência policial, como estratégia política para disputar o Palácio do Planalto. Enquanto, Tarcísio tenta se mostrar aos paulistas que é um gestor público eficaz e eficiente, fazendo politicagem barata com o uso de câmeras corporais nos PMs de São Paulo, que é parte de uma política de segurança pública que visa proteger os policiais e os cidadãos, é não promover uma guerra.

Portanto, o cinismo de Caiado e a inabilidade política de Tarcísio têm o objetivo de cooptar e excitar a claque da extrema-direita para apoiar uma política de segurança pública que nega a proteção de direitos fundamentais e a ordem. Eles buscam instrumentalizar as policiais militares, comparam a violência policial a “incidentes” e não a crimes, visando uma catarse política e não a valorização dos profissionais da segurança pública.