UMA EMPADA DE PALAVRAS

Para Weber, o líder político deve ter domínio carismático como “força” de sua vocação para seguir o caminho da política no Estado.

ARNALDO EUGÊNIO

DOUTOR EM ANTROPOLOGIA

Em ano eleitoral somos inundados por uma tempestade de ideias, discursos e propostas de diversos personagens em campanhas eleitorais, que gravitam entre a realidade, o devaneio e o irrealizável, formando uma “empada de palavras”, um tanto indigesta. Porém, mesmo sob as dúvidas de muitos seres incrédulos, “os de verdade, os eleitores sabem que são”.

Na maioria dos casos, inúmeros candidatáveis a cargos majoritários e proporcionais trazem consigo planos e palavras de sombras e desconexas das demandas populares, onde a prioridade é a quantidade e não a qualidade das imaginações, que depõem contra a noção de Política – no sentido weberiano.

O sociólogo Max Weber (1864-1920) compreende a “Política” como qualquer tipo de liderança independente em ação, porque envolve uma grande variedade de relações humanas. Na obra “Política como vocação”, o autor associa o termo ao tipo de liderança exercida pelas associações políticas e, mais especificamente, pelo Estado.

 No caso dos partidos políticos é nítido, pelas ideias e falas de muitos partidários, que a maioria das pessoas que se lançam a cargos majoritários e proporcionais não exercitam a noção de política como vocação, mas como uma chance de ascensão socioeconômica. Porém, é óbvio que para pleitear um cargo eletivo não necessita que alguém seja “político vocacionado”, pois trata-se de um direito político e subjetivo.

 O problema é que, no Brasil, a maioria das pessoas não exercita nem vivencia a Política como uma espécie de vocação, ou seja, pensar o social através de uma visão global que possibilite um espaço de debate e de participação para que todos compreendam a natureza e a evolução das sociedades. É nesse nível de consciência, como uma espécie de “vocação”, que o político deveria pulsar.

No sentido weberiano, a “política” significaria a participação no poder ou a luta para influir na distribuição do poder. Isto é, “[...]quem participa ativamente da política, luta pelo poder quer como um meio de servir a outros objetivos, ideais ou egoístas, quer como 'o poder pelo poder', ou seja, a fim de desfrutar a sensação de prestígio atribuída ao poder”.

Assim, em anos eleitorais, na ânsia de alcançar o poder a qualquer custo, muitos candidatáveis a cargos eletivos se sustentam em falácias, para ludibriar o eleitorado. Na lógica, as falácias são raciocínios errados que têm aparência de verdade. Em sentido figurado, no campo da política partidária, são “empadas de palavras” letais, que nivelam a Política pelo que há de mais baixo e superficial, para matar a consciência do eleitorado.

Para o senso comum eleitoral, a política é vista como um “jogo de enganadores”, no qual ganhará quem mentir mais e enganar a todos. Desse modo, a maioria do eleitorado comum tende a generalizar os candidatos por baixo: “são todos mentirosos”. Nesse sentido, não há um “eleitorado burro”, mas um misto de críticos, dispersos e oportunistas, que tendem a se comportar na hora de votar, respectivamente, por consciência, distração ou conveniência.

O comportamento do eleitorado tem as suas razões de ser e confirmáveis. Porque nos períodos eleitorais, muitos candidatáveis usam e abusam de falácias ou de afirmações sem fundamentos, mas frequentemente mostradas com tanta convicção que parecem comprováveis. E buscam adquirir uma vida própria até se tornarem parte de uma crença.

Para Weber, o líder político deve ter domínio carismático como “força” de sua vocação para seguir o caminho da política no Estado. No plano do ideal, a escolha do eleitorado deveria ser pelos “políticos de vocação”, que seriam as únicas personas decisivas nas correntes cruzadas da luta política pelo poder.