Ariano Suassuna, renomado escritor brasileiro cuja obra inspirou a irreverente produção televisiva “O Auto da Compadecida”, costumava dizer que o brasileiro é feliz por natureza. Segundo ele, somos capazes de rir até das tragédias que nos acometem. Certa vez, Suassuna contou publicamente uma anedota sobre dois viajantes com deficiência que se aventuraram no mar. Um deles enxergava de um olho; o outro, completamente cego. O primeiro ficou na retaguarda, operando o leme, enquanto o segundo assumiu o remo na proa da embarcação. Em alto-mar, o movimento desajeitado do remo acabou atingindo o único olho saudável do companheiro, que imediatamente exclamou desolado: "PRONTO!" O amigo cego, sem entender o contexto, concluiu que haviam chegado a terra firme e desembarcou sem hesitar.
“Como podemos rir de uma história trágica dessas?”, perguntou Suassuna à plateia.
Em alusão ao Dia Internacional da Felicidade -20 de Março-, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um relatório que faria qualquer pessoa dar razão ao criador de Chicó e João Grilo. Segundo o órgão, o Brasil subiu oito posições no “ranking da felicidade” mundial. A pesquisa, realizada em 147 países ou territórios, analisou fatores como percepção de corrupção, sentimento de liberdade, apoio social, expectativa de vida saudável e PIB per capita.
Baseado no relatório que apontou o aumento do contentamento no Brasil, podemos concluir que os brasileiros dão pulos de alegria ao perceber que, a corrupção política tem diminuído drasticamente nos últimos tempos. Os idosos da pátria verde e amarela dispensam suas bengalas e exibem suas dentaduras para celebrar a vida saudável proporcionada por nossas políticas públicas para a terceira idade. Os cariocas soltam fogos para comemorar a liberdade que desfrutam pelas vilas e favelas, berços do samba. Já os empresários do “celeiro do mundo” sorriem aliviados com a nossa taxa básica de juros, que recentemente atingiu modestos 14,25 % ao ano.
De acordo com o relatório, o Brasil tem galgado posições no ranking da felicidade desde o ano passado. Saltamos da 44ª para a 36ª colocação. No topo da lista, encontra-se a fria Finlândia, onde os termômetros podem marcar -7°C no inverno, mas, ainda assim, os habitantes tremem de satisfação. No outro extremo, na última colocação, está o conflagrado Afeganistão. Os Estados Unidos, por sua vez, caíram do 20º para o 24º lugar em meio a uma intensa campanha de deportação de infelizes imigrantes, indiferentes a quaisquer posições do Tio Sam na citada pesquisa.
Portanto, se você é um viajante em busca de um porto seguro, alguém que peregrina por diferentes países com o objetivo de encontrar um lugar para constituir família e morar de vez, saiba que ocupamos uma posição importante no recente ranking da felicidade global e da alegria geral das nações. Felicidade é o nosso lema. E se você ainda tiver dúvidas, relaxe. Pode desembarcar de olhos fechados – e, se não enxergar tudo tão cor-de-rosa assim, não se preocupe: sempre haverá um brasileiro pronto para motivá-lo a seguir em frente. Afinal,se sempre estivemos em posição de destaque quando o assunto são as mazelas, nunca saímos do primeiro lugar quando o quesito é rir de nossas próprias mazelas.
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