As tensões globais não apenas cresceram — elas se multiplicaram, escalaram e se espalharam como fogo em palha seca. Conflitos armados explodem em diferentes cantos do planeta, enquanto discursos inflamados, atitudes beligerantes e demonstrações de força voltam a dominar a diplomacia internacional. É uma maré crescente de instabilidade que não dá sinais de refluxo.
O diplomata Celso Amorim, ex-chanceler brasileiro e profundo conhecedor das engrenagens da política internacional, declarou recentemente jamais ter presenciado um cenário global tão frágil e imprevisível. A ameaça não é mais silenciosa ou distante: é concreta. Especialistas alertam que há cerca de 12.500 ogivas nucleares no mundo, sendo aproximadamente 9.600 em estado operacional, prontas para uso — a maioria em posse dos Estados Unidos e da Rússia. O próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu em tom sombrio: o mundo vive um "momento de perigo nuclear como não se via desde a Guerra Fria". A possibilidade de um conflito em larga escala, envolvendo armas de destruição em massa, deixou de ser uma hipótese de ficção distópica e passou a integrar relatórios técnicos e projeções militares.
Vivemos, ironicamente, na era mais informada e, talvez, mais desinformada da história. A avalanche de dados — vídeos, análises, transmissões ao vivo, opiniões e boatos — invade nossas telas com uma velocidade estonteante. O acesso irrestrito à informação, que deveria nos iluminar, muitas vezes apenas acende novas fogueiras de pânico e confusão. A ansiedade generalizada é um subproduto invisível dessa era hiperconectada.
Em contraste brutal com os dias de hoje, há apenas 34 anos, em 1991, os Estados Unidos iniciavam a chamada "Operação Tempestade no Deserto", um ataque aéreo massivo contra o Iraque de Saddam Hussein. O então presidente George W. Bush deu a ordem por fax. Um jornalista da CNN, narrou os estrondos das explosões por telefone fixo, de dentro de Bagdá. A imagem da TV? Um mapa estático do Golfo Pérsico. A internet ainda engatinhava no Brasil.
No conflito atual, há sites alimentados 24 horas por dia com o "Cenário da Guerra", mostrando em tempo real as movimentações dos exércitos, mapas interativos, e análises de especialistas de todos os tipos. Termos técnicos e siglas bélicas circulam com fluidez quase esportiva: Northrop Grumman B-2 Spirit, ogivas táticas, Massive Ordnance Penetrator. Para os estrategistas amadores da paranoia, que ensaiam rotas de fuga como quem revisa a lista do supermercado, existe até um simulador online de explosões nucleares. Basta digitar o nome da sua cidade, escolher entre bombas como a “Little Boy” lançada em Hiroshima ou a gigantesca “Tsar Bomba”, e pronto: o site fornece estimativas do raio de destruição, número provável de mortos e contaminados.
Simulação do raio de destruição da "Tsar Bomba", lançada em superfície, no Centro de Teresina- PI– Fonte:Nukemap
Diante de tantas imagens devastadoras, simulações apocalípticas e análises proféticas, talvez o melhor a fazer para preservar a sanidade — além de torcer para que as guerras terminem logo - seja olhar menos para as manchetes sobre conflitos beligerantes e mais para o céu estrelado das festas juninas. Afinal, nesta época do ano, é muito mais saudável ouvir o estalo das bombinhas de São João do que o eco aterrorizante das bombas varando o céu do Oriente Médio.
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