O mundo reagiu de diversas formas com a eleição do presidente Trump nos Estados Unidos, no início da semana. A economia foi, sem dúvida, um dos setores mais atingidos globalmente. No Brasil, o dólar chegou ao patamar de R$5,86, impulsionado com a eleição do republicano. Há uma expressão no economês, dessas que assustam quem sente na pele os efeitos das relações econômicas, que diz: “A inflação aleija, mas o câmbio mata.” Eu sempre uso essa frase, como minha melhor performance ao analisar o complexo mercado econômico brasileiro. Já um ex-BBB, graduado em economia, que vive nas terras do Tio Sam foi mais lacônico e enfático, ao analisar o cenário econômico atual com relação ao dólar, e decretou no X (antigo Twitter): “O Brasil tá lascado!”
O mercado é realmente demasiado sensível, parece muito com um menino mimado que se aborrece com qualquer coisa que lhe dizem. Não que uma eleição americana não seja um evento importante para o cenário econômico global, mas, se um Ministro da Fazenda no Brasil menciona que vai tomar medidas para controlar os juros, o dólar sobe. Se, por outro lado, não toma medida alguma, o dólar sobe do mesmo jeito. É difícil manter uma relação estável com algo tão inconstante quanto o mercado nacional, especialmente o câmbio.
Lembro que, no governo brasileiro passado, o então Ministro da Economia, após um evento realizado pela FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), declarou a jornalistas, ao ser questionado sobre a possibilidade de o dólar atingir R$5,00: “Se fizer muita besteira, pode ir para esse nível.” Não deu outra! O mercado, que não se importa com gramática e só se atenta à frieza dos números, ignorou a conjunção condicional "se", na frase do ministro, e seguiu adiante, rompendo a barreira que o governo temia, para a indignação geral dos responsáveis pela regulação do sistema econômico no Brasil.
Infelizmente, não há uma forma eficaz de blindar a economia das declarações impulsivas de autoridades e da conjuntura política. Não existe uma “redoma” que torne o mercado imune a falas que contribuem para as frenéticas variações do complexo mercado brasileiro. Além disso, as redes sociais ampliam e espalham rapidamente declarações infelizes, ditas por líderes políticos em qualquer parte do mundo. Alguns segmentos da economia, por sua vez, parecem também ter interesse especulativo nessa “gangorra” e torcem como nunca para que autoridades açulem esse mercado, que é tão sensível como o bolso de milhões de brasileiros.
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