Quinta, 16 de janeiro de 2025, 00:01

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COLUNA

O Pix ainda pulsa!

Por Maurício Lopes

Uma anedota contada por um comediante piauiense ilustra bem o fenômeno da confiança cega em figuras ou ideias, por mais questionáveis que sejam. Conta-se a história de um renomado médico do interior do Piauí, cujo prestígio nos anos 1980 era tamanho que seus diagnósticos eram tratados como verdades absolutas. Certa vez, após um acidente automobilístico, várias vítimas foram levadas ao hospital e, mais tarde, declaradas mortas. No dia seguinte, durante o sepultamento, uma delas, ainda viva, tentou protestar: "Eu não estou morto!". De imediato, um coveiro fiel ao médico interveio, golpeando-o com uma pá e retrucando: "Tu é besta, rapaz? Quer saber mais do que o Dr. Raimundo Brito?"

Essa piada, trágica e cômica, reflete bem a natureza da desinformação que tomou conta das redes sociais nos últimos dias, especialmente sobre as transações via Pix, conforme explicarei no final desse artigo. Desde a semana passada, o Governo Brasileiro, em particular a pasta da Comunicação, tem “comido tampado” para desmentir as Fake News que alegam a cobrança de taxas sobre o uso do Pix. Segundo o governo, essas informações são falsas, mas o estrago está sendo feito: as transações caíram 15,3% em janeiro de 2025, resultado do pânico causado pela mentira.

A verdade, de acordo com fontes oficiais, é que nenhuma taxa será cobrada (não se sabe futuramente). O que estava em vigor era a determinação para Receita Federal monitorar transações acima de R$ 5 mil realizadas por pessoas físicas- determinação revogada no momento em que escrevíamos esse artigo-como forma de acompanhar as transações, assim como sempre  foi feito com as transferências bancárias.

Apesar dos esforços da mídia oficial e de veículos de comunicação para desmentir essas informações falsas, o impacto na economia e na confiança da população é evidente. Jornais, sites de economia e  telejornais dedicaram tempo para desmentir as alegações. De outro lado,o presidente Lula, numa tentativa de comunicação direta com a população, realizou uma doação simbólica via Pix para seu time de futebol favorito, reafirmando que não há qualquer cobrança adicional. O Ministro da Fazenda, por sua vez, anunciou medidas legais contra aqueles que disseminam essas mentiras de má-fé, agravando ainda mais a já desafiadora situação econômica do país.

Desfazer os danos causados por essas Fake News, no entanto, não será tarefa fácil. Uma parcela significativa da população parece  assimilar sem contestações a ideia de que tudo o que vem das redes sociais – seja WhatsApp, Facebook, TikTok ou Instagram – é tão confiável quanto a palavra de um especialista, ou talvez até mais, pouco importando se foi produzido por alguém com um Ph.D. em Economia ou pelo Tio do Bar da Esquina. Assim como os coveiros, que jamais duvidariam de um diagnóstico do Dr. Raimundo Brito, o 'povão' parece determinado a acreditar cegamente em qualquer mentira e chegam a bradar com convicção e teimosia, a quem ousa contestar Fake News, oriundas das redes sociais :"Tu é besta, rapaz? Quer saber mais do que o WhatsApp?'"

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