Quinta, 16 de janeiro de 2025, 02:44

Gestão Sumária

COLUNA

O que é Pareidolia? E o que ela tem a ver com promessas vãs?

Por Maurício Lopes

Pareidolia é um fenômeno psicológico e não doentio, no qual as pessoas enxergam padrões ou atribuem significados a estímulos aparentemente aleatórios, como formas de rostos em nuvens, figuras em manchas de tinta, ou ainda olhos e bocas em uma tomada elétrica, por exemplo.Trata-se de uma tendência natural de impor uma interpretação significativa onde, objetivamente, ela não existe. É quando um estímulo  – oriundo de uma imagem avulsa – é percebido  como uma forma reconhecível.

Curiosamente, tenho experimentado nos últimos dias, algo que insisto em querer atribuir a uma variação da Pareidolia. Sempre que ouço as promessas de gestores recém-empossados, crio “construções perceptuais”, atribuindo a elas outros significados, que divergem radicalmente das proclamadas por esses homens públicos, no limiar de suas gestões. Por exemplo, quando um governante declara com segurança que, em seu mandato, a saúde pública será prioridade, a imagem que me vem à mente é a de filas intermináveis que se estendem pelas madrugadas, formadas por pacientes desesperados nos corredores do SUS. Consigo até visualizar o irônico absurdo de um exame de ecocardiograma fetal sendo aprovado apenas quando a criança já "sopra as velas" do seu primeiro aniversário.

Da mesma forma, ao ler notícias sobre um líder recém-nomeado garantindo que a geração de empregos será prioridade máxima, sou tomado por visões de calçadas abarrotadas de vendedores informais e pelo caos do trânsito, agravado pelo excesso de barracas. Essa "prioridade" ganha forma como um quadro de improviso e desespero, muito distante da formalidade prometida. 

Quando observo, do alto do púlpito, em qualquer município pelo Brasil afora, um prefeito garantindo melhorar o trânsito de sua cidade, tão logo assuma o mandato, a imagem que me vem à mente são guardas nas esquinas ou fotossensores agindo a todo vapor.

E, finalmente, ao ouvir um prefeito ou vereador assegurar que, em sua gestão, os direitos humanos e sociais serão respeitados, com a criação de restaurantes populares e cozinhas comunitárias para erradicar a fome, surge em minha mente o rosto cansado de uma senhora à fresta do meu portão, clamando por migalhas, sobras de alimentos ou latinhas vazias para vender no ferro-velho.

Pergunto-me, então, se esse fenômeno – essa tendência de projetar desilusões tão reais a partir de palavras vazias, intrínsecas nas mesmas promessas nunca cumpridas ao longo dos anos – não seria uma nova espécie de Pareidolia? Talvez seja uma forma distorcida de interpretar a realidade, onde promessas vãs, feitas em tom grandioso, se transformam em imagens de ficção e devaneios que nos atormentam.

Gostaria que a ciência, recorresse as teorias "freudianas", e desse um nome a esse meu comportamento e, também, respondesse a uma outra questão que me aturde: será que sou eu quem precisa de tratamento ou é a classe política que deve recuperar a vergonha na cara? 

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