Quarta, 22 de janeiro de 2025, 02:22

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COLUNA

Salve o reality show, viva o controle remoto!

Por Maurício Lopes

Concordo que os reality shows (esses formatos de programas de televisão em que pessoas ficam confinadas) não estão entre os melhores gêneros televisivos. Mas, também, sou da linha do Seu Lunga, figura folclórica de “pavio curto” do sertão do Ceará, que com certeza exclamaria: “Assiste quem quer”. O controle remoto existe justamente para isso! Além do mais, atualmente há diversas outras formas de entretenimento disponíveis nas telas. No entanto, somente não posso concordar com algumas aberrações: ofensas pessoais, preconceitos de qualquer tipo, xingamentos e flatulências em horário nobre que, vez ou outra, entre um programa e outro, acontecem sem qualquer pudor.

Lembro-me, a propósito, de uma nordestina que participou em uma das edições de um famoso reality. Era uma cabeleireira e frequentemente gritava "p**quito" durante suas discussões com outros participantes. Curiosamente, a emissora não usava o sonoro e onomatopeico "piiii" para censurá-la. Faltou ali uma orientação cultural, alguém que entendesse os palavrões de diferentes regiões do Brasil. Qualquer editor oriundo do Piauí ou outro estado nordestino, teria suprimido a expressão pouco ortodoxa. Para a emissora, parecia ser apenas um inocente pássaro; para nós, piauienses, era algo bem mais expressivo.

Confesso que não acompanho assiduamente esse gênero de programação, se não me falha a memória, nunca assisti a um programa por inteiro. Ainda assim, acredito que eles tenham alguma utilidade. Lembro-me de uma professora de Recursos Humanos que defendia o uso de reality shows como ferramenta de estudo para psicólogos e analistas comportamentais. Um colega, no entanto, sempre retrucava: "Quem assiste é doido!"

Nos Estados Unidos, críticos de televisão cunharam uma expressão curiosa: "Jump the Shark" (saltar o tubarão, em tradução literal). Ela é usada para descrever o momento em que um programa ultrapassa seu auge e começa a perder relevância e audiência. É uma metáfora fácil de entender, após se saltar sobre um tubarão, a tendência é cair mesmo. No caso dos reality shows, parecia haver várias baleias empilhadas. Agora, não obstante ainda em evidência, nota-se estarem chegando ao último estágio do salto — e despencando juntamente com alguns outros formatos retrógrados de programas televisivos. O comediante americano Groucho Marx dizia “considerar a televisão muito educativa, quando alguém ligava o aparelho na sala, ele ia para o quarto ler um livro”. Os telespectadores, à reboque desse pensamento, estão indo na busca de outras formas de entretenimento, seja nas redes socias da vida ou diversas outras plataformas da internet.

Sem querer soar excessivamente aforismático, deixo duas frases para concluir. A primeira é famosa e atribuída a um filósofo francês: Cada povo tem o governo que merece." A segunda, como plagiador cínico que sou, oriundo dos cafundós da Lagoa Seca afirmo: "Cada telespectador assiste o que achar merecer"

Democracia também é isso: assistir ao que bem entender e sintonizar no que lhe trouxer prazer. E viva a liberdade! Viva o Reality Show! Salve o controle remoto!

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