O fenômeno social complexo da violência – não só no Brasil –, não tem um fim previsível, nenhum “salvador da pátria” nem uma fórmula universal para o enfrentamento definitivo. Pois, dentre as múltiplas formas de manifestação da violência – além das mortes intencionais, que têm mais visibilidade midiática –, há diversas práticas de incivilidade, onde o Estado – como detentor do monopólio legítimo da violência – não alcançará um efetivo controle social “só com a força”.
Porém, o fato da violência humana não ter um fim, não implica que se deva abandonar o ideal de uma sociabilidade em que os conflitos interpessoais sejam resolvidos de forma civilizatória. Para isso, urge que a sociedade se engaje nos debates públicos, visando a construção de uma sociabilidade não-violenta que privilegie a vida, o respeito, a cidadania ativa, o Estado de Direito, a dignidade, a rejeição aos criminosos e corruptos.
Nesse sentido, uma sociabilidade ou comunicação não-violenta – que, por exemplo, não aceite a adultização de crianças e a exploração sexual infantil – é resultado de um processo societal contínuo, justo e coletivo. Assim, desde as interações mais básicas do dia a dia até a participação em grupos e instituições sociais focadas na promoção de relações civilizatórias, na proteção de crianças, adolescentes e idosos, na equidade de gêneros, no estímulo a condutas morais e éticas, e no fim da impunidade.
No “Brasil violento”, com base na “cultura de paz”, no comprometimento social, no culto à honestidade, no Estado eficiente, na participação social ativa, na universalização da creche pública e o fim da permissividade com a corrupção endêmica, é tanto possível como urge a construção e institucionalização de uma sociabilidade não-violenta a partir de uma perspectiva de médio e longo prazo, objetivando o bem-estar da maioria da população – onde a exclusão seja uma exceção e a inclusão seja a regra.
Desse modo, para intervir nas dinâmicas da violência, a sociabilidade não-violenta deve se sustentar em um modo de comunicação e de interação social que vise criar conexões autênticas e mediar os conflitos através da empatia e da atenção às necessidades mútuas. Onde a guerra, o terrorismo, o ódio e as intolerâncias sejam rejeitadas a favor da vida e do respeito às diferenças.
Corroborando a complexidade da violência, a Organização Mundial da Saúde (OMS) construiu uma tipologia de três grandes grupos “conforme quem comete o ato violento”: 1) violência contra si mesmo (autoprovocada ou auto infligida); 2) violência interpessoal (doméstica e comunitária); e 3) violência coletiva (grupos políticos, organizações terroristas, milícias). Essa classificação mostra, por um lado, a amplitude das formas de manifestação violência e, por outro lado, a necessidade de uma política de segurança pública que se estruture em planos e ações estratégicas intersetoriais, para além da visão policialesca – ou da força em detrimento da inteligência.
Dessa forma, mesmo que não haja caminhos com soluções definitivas, mas de atenção permanente, existem várias possibilidades de controle social, dentro da razoabilidade de uma política pública de segurança, que reconheça e atue sobre os fatores e as dinâmicas da violência – não somente na forma de criminalidade.
Pois, os fatores criminógenos dentro da classificação da OMS não são os mesmos nem estáticos, necessitando de estudos constantes, ações inteligentes e parcerias intersetoriais entre o Estado e a sociedade civil. Onde a quantificação criminal sirva para subsidiar as análises qualitativas, as políticas de segurança pública, os planos e as ações estratégicas.
Logo, o controle da violência exige um coletivo articulado no diálogo e na comunicação não-violenta pela paz – isso não significa ausência de conflitos.

Dê sua opinião: