Sexta, 05 de dezembro de 2025, 08:00

Xadrez na Política

COLUNA

O BLOCO DA CHANTAGEM

Por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia.

Enquanto nós – o eleitor brasileiro –insistimos em ignorar a importância e as consequências do voto, continuaremos a “povoando” o Senado, a Câmara dos Deputados, as Assembleias Legislativas, as Câmaras Municipais e o Executivo – federal, estaduais e municipais – com políticos carreiristas ou profissionais da política, cujo fim último é defender os próprios interesses, os privilégios e fortalecer o corporativismo de classe, em detrimento do bem comum, da igualdade social e do desenvolvimento da nação.

Assim, em grande parte, o povo brasileiro legitima os esquemas criminosos e de privatizações viciadas na saúde, na educação, na previdência social etc., no dia das eleições, com o analfabetismo – no sentido de inconsciência – do voto na urna. Isso não tem nada a ver com o nível de escolaridade, mas com comprometimento moral e responsabilidade social, visando o bem da coletividade.

Ontem, a pressão popular que veio das ruas demoliu a “PEC do banditismo” e os seus deputados dissimulados de “bons moços” – de direita, de esquerda, da extrema-direita e do “centrão”. Mas, hoje, para aprovar a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, um bloco chantagista de deputados de oposição exigem que governo corte verbas da educação e da saúde.

Ou seja, o “bloco da chantagem” quer cortes de verbas compensatórias justamente em pastas mais sensíveis à população. Isto deixa claro que a prioridade, principalmente, dos deputados de oposição não é o bem comum coletivo, mas os privilégios de poucos.

Nesse sentido, a Câmara dos deputados deverá votar na quarta-feira (01/10) o Projeto de Lei que isenta do pagamento de Imposto de Renda, mais de 30 milhões de brasileiros que ganham até R$ 5 mil. Porém, o “bloco da chantagem” de deputados de oposição já apresentou mais de 50 emendas ao texto original, cuja armadilha é evitar a taxação de uma minoria de indivíduos que ganham mais de R$ 600 mil anuais.

Dessa forma, se o “bloco da chantagem” impor a sua vontade, o governo terá que compensar a isenção com cortes em áreas sensíveis para a sociedade, como saúde e educação. Isto é, proteger a pequena fatia de bilionários e milionários, tirando deles a obrigatoriedade de pagamento de Imposto de Renda, em detrimento do benefício para a maioria de brasileiros com a isenção.

Como isso, os deputados do “bloco da chantagem” não estão se utilizando do mandato para beneficiar a maioria dos brasileiros. Mas, na defesa dos interesses e dos privilégios dos mais abastados, aumentando a injustiça social e negando a equidade entre os brasileiros.

Logo, é evidente a intenção da manobra do “bloco da chantagem” dos deputados de oposição ao governo: tirar os mais ricos da tributação do Imposto de Renda e não possibilitar a isenção para os de menores rendimentos – isto é, a maioria da população brasileira.

Desse modo, enquanto não consolidamos a prática do voto consciente, é fundamental mantermos a vigilância e voltarmos a ocupar as ruas como forma de pressionar o Parlamento a respeitar o povo brasileiro e encampar lutas pelas demandas da maioria da população, como prioridade do mandato. E, a partir das próximas eleições, usarmos um filtro eleitoral mais criterioso em relação às candidaturas.

Pois, o “bloco da chantagem” está desfigurando, intencionalmente, a ideia original do projeto em estabelecer uma alíquota mínima para rendimentos acima de R$ 50 mil por mês, equivalente a R$ 600 mil anuais. Onde, por questão de equidade, a taxação dos chamados “super-ricos” seria progressiva, chegando a 10% para quem ganha mais de R$ 1,2 milhão por ano.

Portanto, voltemos às ruas para frear a manobra do “bloco da chantagem”.

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