Quem acha que o cearense só é destaque quando se fala em show de humor, precisa rever seus conceitos (e talvez a conta bancária). O destaque também não está no forró, nem no cordel, e sim no extrato milionário de um empresário da terra quente e seca que inspirou Rachel de Queiroz. Segundo a Forbes, Candido Pinheiro de Lima, dono da rede de saúde Hapvida, viu sua fortuna engordar mais de 150% entre 2023 e 2024, alcançando os R$ 13,7 bilhões, que o fizeram um dos empresários mais ricos do país. Piada mesmo, é quando comparo o valor exorbitante ao meu saldo bancário, que anda mais desidratado que planta esquecida no apartamento.
Brincadeiras à parte, a história vai além da curiosidade econômica. O que está por trás desse salto bilionário é um sintoma que já virou epidemia: o brasileiro anda doente. E não é só da cabeça — é do corpo, da alma, do bolso e, às vezes, até da timeline. Nunca se falou tanto em bem-estar, autocuidado e saúde mental. E, paradoxalmente, nunca estivemos tão cansados, ansiosos e inflamados — física e digitalmente.
Hoje, cuidar da saúde virou um empreendimento coletivo: consultórios cheios, influencers fitness vendendo detox, oncologistas explicando tumores em quadros de programas televisivo no horário do almoço, remédios “aprovados pela Anvisa” que prometem curar tudo. Enquanto deslizo pelo controle remoto, vejo um desfile de soluções: oração, colágeno, yoga, dieta da lua, do sol e da dúvida. O mundo virou uma grande farmácia com seções de autoajuda. No meio disso tudo, lembrei de uma frase que li num livreto motivacional (motivacional?!): “A medicina evoluiu tanto no estudo das doenças que hoje é difícil encontrar alguém completamente saudável.”Nunca fez tanto sentido. Estamos adoecendo por excesso — excesso de informação, de pressão, de açúcar, de comparação.
Recentemente, assistindo a uma audiência na Câmara dos Deputados sobre a máfia das bets, me deparei com uma cena digna de um episódio de tragicomédia política. Um parlamentar exaltado berrava ao microfone, quando foi interrompido pelo Deputado Coronel Crisóstomo (PDT-MS), que, com ares de médico exibicionista, disparou:“Cuidado, deputado, o coração para! Eu vi a dilatação de suas artérias, o rubor da sua face, o descontrole das catecolaminas funcionando no seu organismo!” Não sei se era um alerta genuíno ou se a intenção era só render um bom corte para as redes — daqueles que viralizam com legendas em caixa alta e emojis de sirene. Confesso: fiquei tentado a medir minha própria pressão só de assistir — e ir também em busca de um dicionário, diante da linguagem preciosamente técnica do nobre deputado-médico.
Então aqui vai um conselho gratuito — e sem contraindicação: se puder, ria. Recorra à religião ouvindo padres, pastores — mirins ou “prime” —, mexa o corpo, respire fundo e, não cometa crimes (veja o caso recente daquele político famoso que viu suas mazelas se agravarem diante da iminência da prisão). E, se o bilhão do empresário cearense não chegar, tudo bem. Nem todo mundo vai ser dono de plano de saúde. Mas todo mundo pode — e deve — cuidar da sua. Faça como a maioria dos cearenses pobres: Ria de si, da vida, façam piadas da crise e da consulta marcada pra daqui a três meses. Evitem que a movimentação exacerbada e descontrolada das catecolaminas no seu organismo o deixem de mal humor.
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