Nossa carne não é fraca - Gestão Sumária
Sábado, 23 de novembro de 2024, 09:59

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COLUNA

Nossa carne não é fraca

O patriotismo econômico não enche o prato: os mais vulneráveis são indiferentes ao boicote francês


Após mais de 20 anos de negociações, o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que visa facilitar o livre comércio entre os dois blocos econômicos, encontrou recentemente um novo obstáculo. Produtores franceses pressionaram o Grupo Carrefour a interromper a compra de carne bovina de países como Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai. A pressão surtiu efeito, e a rede de supermercados cedeu.

A decisão gerou indignação deste lado do Atlântico. Afinal, a carne sul-americana não carece de qualidade. O filé mignon argentino é um dos melhores, o bife paraguaio não é "falso", e a carne brasileira é reconhecidamente suculenta. Então, por que a França decidiu boicotar? Segundo os produtores franceses, a produção agropecuária local enfrenta uma crise sem precedentes, e a implementação do acordo UE-Mercosul colocaria ainda mais pressão sobre o setor.

O Carrefour, por sua vez, reafirmou que a decisão não tem relação com a qualidade da carne sul-americana, mas sim com questões comerciais. Ainda assim, o episódio despertou sentimentos protecionistas tanto na França quanto no Brasil.

No Brasil, a resposta veio rápida. Produtores pressionaram o governo, e o ministro da Agricultura sugeriu suspender o fornecimento de carne para as operações francesas do Carrefour instaladas no país. No Mato Grosso, um dos maiores produtores de carne bovina da América do Sul, o governador foi além, propondo um boicote geral à rede de supermercados.

“Quero dizer ao diretor geral do Carrefour e do Atacadão, que eu, como cidadão, não vou comprar mais das lojas deles, e acho que aqueles que são do agro e até a população brasileira, para honrar o nosso País, deveriam pensar em dar a eles o mesmo tratamento que estão dando ao nosso País”, defendeu o governador.

A sugestão do boicote lembra um episódio ocorrido no Piauí, nos anos 2000, quando um executivo de uma grande fabricante de eletrônicos afirmou que "se o Piauí deixasse de existir, ninguém se importaria", em uma análise polêmica sobre a relevância econômica do estado. A declaração gerou revolta local: políticos se indignaram, a imprensa reagiu, e o povo foi instigado a boicotar os produtos da empresa. No entanto, na prática, o povo não aderiu à causa bairrista de forma extrema. Nenhum televisor jogado pela janela, nenhum liquidificador triturado de forma agressiva. Em refrega de touros, quem entra vira poeira! A maioria do povo ainda prefere uma promoção de carne no mercado à briga por patriotismo econômico.

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