IMPOSTOS DE TIRAR O COURO - Gestão Sumária
Quinta, 21 de novembro de 2024, 07:15

Gestão Sumária

IMPOSTOS DE TIRAR O COURO

Pelo amor de Deus, e os meus impostos?

Norte das Águas, livro de contos do Ex-Presidente José Sarney. O último dos contos fala de uma viúva que perdera seu marido comerciante, numa das travessias do Rio Parnaíba. Dona Maria Bolota herdara os ativos e passivos da Loja de Couros do cônjuge. As vendas começavam a claudicar. Sapateiro Absalão, que sempre foi firme nos tratos comprou fiado um grande sortimento da loja. Era um sinal de melhora nas vendas. Foram tantos produtos que Dona Bolota teve que mandar buscar em São Luís. Dias após entregar a mercadoria ao sapateiro chega a notícia devastadora aos ouvidos da comerciante: seu Absalão estava em seus estertores e morrendo. Dona Maria sela sua burrinha e corre desesperada para casa do famoso sapateiro e, ao chegar depara-se com o terrível ambiente: ‘filhos chorando. A viúva quando notou Dona Bolota recém-chegada e pálida que ali estava para confortá-la, largou o corpo do marido e marchou dramática: - Dona Bolota, nosso Absalão! Maria criou forças, pegou a viúva nos olhos, viu o defunto, e não resistiu:

- “Mulher de Deus, e os meus couros?”

Em 2023, a carga tributária no Brasil, segundo o site do Governo Federal atingiu o patamar de 32,44% do PIB (Produto Interno Bruto). Os dados ainda tentam suavizar, destacando a diminuição de 0,64 pontos percentuais em relação ao ano de 2022. Das três esferas da administração pública somente as prefeituras tiveram aumento na arrecadação, cravados em 0,14 pontos percentuais em relação ao PIB. Em termos monetários, e numa rápida pesquisa no site do Impostômetro temos os valores em reais desses percentuais. São 2 trilhões, 136 bilhões, 905 milhões e 405 mil. De primeiro de janeiro até o momento em que perlustrei a tela do computador, que mostra um número frenético modificando-se num átimo de segundos, daria para pagar 50 salários mínimos por mês, durante 3.801.034 anos, os valores dos impostos arrecadados até o momento.

Os números são exorbitantes e, apesar de constantemente se ouvir falar em recordes de arrecadação estamos sempre a viver o dilema: De um lado governos afirmam que as contas estão apertando, de outro empresários, empregados, aposentados e contribuintes em geral clamam por melhorias nos serviços públicos. O certo é que, quanto mais se arrecada mais se ouve lamúrias e imprecações. Mais os serviços públicos estão se precarizando. Não há como aumentar o salário mínimo a um nível condizente. A saúde pública no Brasil nunca foi satisfatória. A segurança ainda requer melhorias. Infraestrutura. Saneamento Básico. Diante desse cenário excruciante só resta contribuinte em seus estertores, exigir dramaticamente como uma viúva abandonada:

- Pelo amor de Deus, e os meus impostos?

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